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 REPORTAGEM  

_ O IMPACTO DA FALTA DE MULHERES DIVERSAS NAS TELAS

Branca, heterossexual e cis-gênero.

 

Todas as 20 personagens protagonistas dos 52 longa-metragens lançados entre os anos 2000 e 2020 com mais de 2 milhões de espectadores, analisados pelo Teste de Lisbela, se encaixam nestas 3 características.

 

Nenhuma personagem é preta, parda, indígena ou amarela. Nenhuma é uma mulher LGBTQIAP+.  

Esses dados não representam a realidade do país, onde mais da metade da população feminina do país não se autodeclara branca.

 

Mesmo assim, a população preta, parda, indígena e amarela ainda é considerada uma minoria, já que essas mulheres não possuem os mesmos direitos socioculturais que as demais na sociedade. E, nesse caso, no audiovisual brasileiro acabam sendo ainda mais mal representadas.

Além disso, o cinema brasileiro também carece de boas representações de outros grupos minoritários. As mulheres LGBTQIAP+,  as não católicas ou evangélicas e as não magras ainda não são colocadas em papéis de grande destaque nas produções audiovisuais. 

 

Nas produções cinematográficas analisadas, cinco personagens declaram não estarem satisfeitas com seu corpo. Não se consideram parte do padrão de magreza estipulado e, isso se torna pauta em sua narrativa. 

 

Vale ressaltar, também, que apenas 1 mulher é declaradamente judia. Sendo que outras 15 são explicitamente católicas ou evangélicas. Na grande maioria, casaram-se na Igreja em algum momento da obra. 

_ A REPRESENTATIVIDADE

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Cenas de filmes brasileiros

Imagem: Reprodução

Sem espaço na sociedade brasileira e no audiovisual, as minorias buscam, todos os dias, por mais representatividade.

 

Esse conceito foi originalmente aplicado à política, na reivindicação por maior representação em espaços de poder e pela democratização de políticas públicas. No entanto, a busca por representação é necessária em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na arte. 

A representatividade, portanto, além de representar os interesses de um grupo, também gera identificação com as imagens em tela.

Afinal, se as múltiplas vivências não estão nos locais de decisão, as discussões continuarão sendo guiadas por quem não vive as dores e não entende as reais pautas que tangenciam grupos minoritários. 

As criadoras do curta “ESCASSO” (2022), Gabriela Gaia Meirelles e Clara Anastácia, falam sobre essa disparidade de discurso na representação de personagens não brancos. 

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“ESCASSO” (2022) é um curta-metragem em formato de mockumentary (pseudodocumentário) político que nunca fala de política. Conta a história de Rose, uma passeadora de cães que celebra o sonho da casa própria, mesmo que o lar seja uma  ocupação.  Ela narra para a equipe documental que está aguardando o retorno da proprietária, por quem está platonicamente apaixonada,  enquanto cuida do local.

 

O curta em questão foi vencedor em 8 premiações nacionais e internacionais. Entre elas ganharam o prêmio de melhor curta de ficção no 19° IndieLisboa e melhor filme do Canal Brasil no 30°  Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. Além disso, foi exibido no 52° Festival Internacional de Filmes de Rotterdam. 

Anastácia, além de ser a roteirista por trás de “ESCASSO”, também dá vida a personagem Rose. Ela explica que as questões sobre a sua sexualidade e a sua raça de Rose não definiriam a construção do arco narrativo da protagonista. 

_ O ESVAZIAMENTO

Carla Villa-Lobos é diretora e roteirista do curta-metragem MC Jess (2018). Ela concorda que, nos filmes em que os diretores são homens brancos e héterossexuais, os arcos narrativos de personagens lésbicas são esvaziados. Geralmente, o destaque é de seu relacionamento, em uma fórmula que as limita ao preconceito por serem LGBTQIAP+. 

A produtora de desenvolvimento na Conspiração Filmes, Raquel Leiko, esclarece que a sociedade brasileira é diretamente impactada pela indústria cinematográfica, assim como a construção do imaginário da mulher real brasileira. Por isso, quando personagens mais diversas e mais inclusivas têm seu espaço nas telonas, o Brasil torna-se um país mais aberto às discussões que realmente importam. 

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